Por sorte não li a sinopse que apresentava o filme O Leitor. Fui para ver a Kate Winslet, que é muito melhor e mais promissora que a jovem do trágico Titanic, no duplo sentido em que isto expressa.
Logo de início, se o espectador não for tomado por uma vertigem, vai perceber que algo de sutil relaciona O Leitor com Central do Brasil. Isso mesmo. Parece impossível, mas acontece. A primeira parte do filme é o doce lado humano com suas intempestividades.
Mas o filme vira, e revira-se abrindo outra perspectiva com o que de fato é o tribunal da vida, das paixões, dos não perdões que a nossa vaidade não nos permite. E as crueldades do mundo se sucedem. As paixões sentidas e reveladas por pessoas que não conhecemos. Que não queremos conhecer. Mas há também o fato de que ao conhecê-las revela-se o porquê se deixaram ou até facilitaram nossa aproximação. Essa dor deste sentimento não correspondido é imensa. Para não ir até profundamente o perdão da própria alma escolhe-se não perdoar em nome da alma do outro. Mas o que se quer pacificar é apenas um coração angustiado pela desolação do desperdício de sentimento. Nisso os dois personagens dividem por motivos distintos, cada qual é vaidoso e vai até as últimas consequências em suas misérias.
Gislene Bosnich