Clique Porta-curtas Petrobrás - Nestes links, o internauta tem acesso a filmes de curta-metragens - até 30 minutos - que tem relevância para o debate em sala e também extrassala de aula. Já na coluna à direita abaixo há uma seleção de vídeos que estão disponíveis no Youtube e também oferecem conteúdo compatível com o programa de História e de Sociologia, bem como, outras áreas afins.

O que é um documentário?

domingo, dezembro 31, 2006

Elis Regina especial da Globo



Em meio a todo o tormento de produções vulgares e ibopeanas de que vive a TV em especial as emissoras que querem se manter na dianteira a qualquer custo, algum velho cacique da marinho produções resolveu relembrar a vida de Elis Regina.


O especial retirou as polêmicas, que com certeza formaram a personalidade e o trabalho da intérprete, mas o resultado foi bastante bonito mesclando a atuação de Hermila Guedes - boa atriz, em fraco roteiro de Karim Aïnouz, eleito o melhor diretor pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA); ver anterior: 2006 revela a inconsistência da crítica cinematográfica - com imagens de Elis do começo da carreira, imagens bem pouco divulgadas e, em geral, quase exclusivas das produções marinho. Mas vale a pena. Porque quando o pessoal da produção quer: é capaz de coisas divinas, vide Hoje é dia de Maria
Para rodar a máquina do dinheiro, em breve, deve se tornar um DVD.


Só falta mesmo um filme sobre a vida de Elis. Vamô lá clã dos Carvalho Costa, liberem a produção.

2006 revela inconsistência da crítica cinematográfica

A crítica foi contaminada pelo mesmo oficialismo vulgar do "jornalismo democrático"


Se antes muitos discordavam dela, agora parece impossível se reconciliar. Parece mesmo que foram aliciados pelas distribuídoras




Depois de toda atrevida insanidade sobre a suposta qualidade do filme sobre uma famosa dupla de cantores de "raízes", a crítica voltou a escolher dois filmes óbvios como os melhores. O Céu de Suely e O ano em que meus pais saíram em férias são uma decepção irremediável. O primeiro, uma fórmula batida para falar da miséria, esta sim apesar de antiga sempre inovada pelo brasileiro que tenta sobreviver. O segundo, como já escrevi, contém um mote ótimo, mas se perde num chocho de interpretação.

Nem Almodóvar trouxe muita alegria. Parece que o diretor vem perdendo a força desde Fale com Ela, em que o protagonista é um covarde sem vida que sai bem- o inverso dos protagonistas de Almodóvar; passando por A má educação até atingir Volver, uma energia sem direção. Mas como Almodóvar tem muito crédito em especial por Carne trêmula e Tudo sobre minha mãe ainda há muita confiança no diretor.

A boa surpresa ficou com o inglês O segredo de Beethoven, que a crítica não gostou e que por ora surpreendeu, , além dos já citados El Metodo que aqui ganhou o estúpido título de: O que você faria? e o maravilhoso Les amants.

quarta-feira, novembro 15, 2006

O ano em que meus pais saíram em férias

Mais tempero ajudaria



Não sei o que é, mas falta algo ao filme de Cao Hamburger. Não sei se é intensidade ao roteiro, ou maior atuação dos atores. O caso é que com um argumento tão salutar, a visão de um garoto sobre o sumiço de seus pais - em decorrência da ditadura militar - meses antes da Copa do Mundo de 1970 e sua estadia no bairro eclético em etnia e costumes do Bom Retiro, o filme não engrena. Houve quem aplaudisse o filme como já se convencionou fazer quando a película ultrapassa as expectativas. Mas este não me parece o caso. Talvez tenha sido necessário um corte, exigência da distribuídora para que o filme se tornasse atrativo comercialmente. É lógico que o filme tem suas delicadezas, mas esta longe de provocar fortes emoções, embora disponha de todos os elementos.
Lembrando de Copa... deixo registrado na Comuna um conto sobre o assunto .


Romaria


Esse conto foi apresentado no Concurso do Estadão, em função da Copa do Mundo 2006, e - como tantos outros - não foi selecionado. Mas como gosto dele o coloco aqui neste blog. Numa autocrítica pública é possível dizer que um dos seus problemas fundamentais é ter cara de crônica e não de conto. Mas em vista dos selecionados e dos critérios: não o deixo de achar simpático.

Esse não é um conto sobre procissão ou religiosidade, até porque nosso personagem prefere mesmo passeatas. Trata-se da história de alguém fecundado na noite da conquista do Tri. Um tal de Emanuel, nascido, sem pena de acontecimentos antecipatórios, nove meses depois. E que só conheceu esse negócio de futebol, de assistir mesmo e torcer, onze anos depois. Era a tal da nova esperança, mas Emanuel nem sabia daquilo. Reunia-se com a turma; fazia vaquinha, pedindo dinheiro aos pais, para a cal e o tubinho de tinta da marca Xadrez. A briga era certa: quem desenharia? Quem faria o contorno do desenho? Quem pintaria o miolo do desenho? O tal do Naranjito – símbolo espanhol daquele campeonato – ao final da disputa pela “pintoria” parecia mesmo um abacaxi. Não importava. Divididos pelas casas, pois, certamente nenhum pai ou mãe suportaria aquela profusão de hormônios liberados a cada jogada, aqueles jovens, incluindo Emanuel, encontravam-se sempre após o final dos jogos para narrar as melhores cenas, os roubos do juiz, as entradas e pernadas e estas coisas com pouco sentido que se comentam depois dos jogos.


Emanuel adorava Chulapa. O tipo maloqueiro “classudo” que ele nem sabia qual posição ocupava e, por isso mesmo, sempre apostava sacos de milho de pipoca por um gol do craque, que nunca vinha. Mas Emanuel nem se importava; afinal, também comeu daqueles grãos estourados em panelas velhas, às vezes, mesmo engorduradas.


Segundo dizem, hoje, Emanuel não confirma muita coisa daquele tempo. Diz que se esqueceu, inclusive das passeatas que organizava uma hora antes de cada jogo pelo bairro para animar os torcedores e “capturar” umas balas e chicletes, mas amigos próximos dizem que não, que o aparente esquecimento é só uma forma de esconder a tristeza. Até hoje não gosta de ver imagens - nas palavras dele - daquele jogo maldito, que foi a peleja entre uma seleção esplêndida e aquele jogo de várzea (com perdão aos jogadores de várzeas, de lá saíram tantos craques, e também muita piada melhor ainda). Mas Emanuel não esconde uma coisa: quando já depois de adulto começou a ouvir o termo stress teve certeza de que fora um pré-adolescente estressadíssimo depois daquele campeonato e que o tormento o persegue.


Emanuel cresceu um pouco mais e já adolescente com os primeiros pêlos no rosto começou a pensar que já pensava por si mesmo. O que vem a seguir foi retirado de seu diário. Páginas inéditas roubadas por seus amigos que o feriram na alma, como se dizia ainda no tempo daquela adolescência, dizendo que diário era coisa de menininha, viadinho. Bom essa conversa qualquer leitor que se preze conhece.


“Hoje até rezei para o Brasil ganhar e começar bem esta copa. Será que viverei toda a vida sem ver a minha seleção erguer uma taça? Não é possível. Se somos os melhores por que, então, não há justiça, cacete?! Fiz uma promessa que vou estudar mais Química caso o Brasil se saia bem nesta primeira fase”.


“Fazem dez dias que escrevi as linhas anteriores e vou reforçá meu pedido. Quero que o Brasil se saia bem nesta primeira fase, mas poderíamos fazer mais gols. Um a zero é de cortar o coração. Parece que não existe nenhum som na face da terra antes do nosso chute varar aquelas traves”.


Emanuel era leal a suas promessas e poderia ter incorporado junto com a Química o esmero maior também no Português. Mas isto não importa. Seguindo as páginas do diário, a confiança aumenta depois do jogo contra a Irlanda do Norte. Novamente, os amigos de Emanuel, os que sobraram, uma parte já havia se mudado, resolveram pintar novamente a rua, até mesmo para cobrir aquelas pinturas do campeonato de 1982.


Como agora alguns já trabalhavam, a graninha era maior e compraram até um fixador para colaborar com a produção da cal e da tinta de tubinho. Ah! também se lembraram de comprar uma balde vagabundo para não deixar nenhuma mãe brava como da última vez. O pessoal que desenhava, de acordo com as poucas linhas reservadas a esta questão no diário, também já tinha melhorado, inclusive as disputas não eram as mesmas. “Ninguém mais briga tanto para desenhar, contornar e pintar. Tem gente que não quer mais sujar as mãos (nem as roupas), principalmente, as meninas”.


“O jogo com a Polônia foi bacana, mas como foi mais ou menos fácil, sem contar o primeiro gol que demorou a sair, não tenho ele como uma grande vitória. Até aqui ninguém tinha comentado sobre a Polônia. Nem aquele pessoal velho mesmo! Nunca ouvi ninguém falar sobre esta seleção; conclusão: não deve ser lá essas coisas. Vamos aguardar o jogo contra a França”.


“MERDA. MERDA. MERDA DE MUNDO. NÃO VOU ESCREVER MAIS NESTA MERDA. O MUNDO É UMA MERDA E O FUTEBOL NÃO ME DÁ NENHUMA ALEGRIA”. Esta foi a última página escrita logo após o jogo contra a Itália. O nome da seleção do Platini nem apareceu!!!. E o diário, depois deste desabafo, perdeu o sentido da existência.


Em 1990, Emanuel estava cursando o primeiro ano de Arquitetura numa faculdade privada, porque o ensino já naquela época estava ficando complicado para alunos e professores; baixos salários, superlotação de salas. Emanuel não culpa os professores nem a si mesmo. Na verdade, segundo os amigos que reencontrou, ele estava muito feliz e tinha feito as pazes com o futebol (fazia maquetes de estádios em suas horas vagas) e estava disposto a manter-se fiel torcedor (fiel no sentido de fidelidade e não no sentido utilizado pelo torcedor do Corinthians que pode parecer o mesmo, mas não é – Emanuel sempre advertia. Emanuel era são-paulino! Mas também gostava do Palmeiras). Antecipou-se e no final de maio já tinha doado um dinheirinho à “nova geração de pintores de ruas em época de copa”. Colaborou, junto com os outros, organizando a pirralhada para que não sofressem como eles haviam sofrido (Ninguém mais falou sobre o diário; ele já tinha sido roubado, mas o desinteresse de Emanuel era tão grande que ele nem percebeu). Emanuel havia se convencido que o pintar a rua depois do começo da copa, como ocorrera tanto em 1982 quanto em 1986 - quando as ruas foram pintadas dois jogos antes do Brasil perder, como os leitores devem se recordar -, trazia muito azar. Então, dessa vez estava tudo certo.


No meio do jogo contra a Argentina, na hora do intervalo, enquanto todos conversavam sobre as possibilidades, Emanuel preparava, calado, um poderoso composto de tintas num balde bem bacana que havia comprado para a garotada. Só alguns amigos perguntaram sobre o que se tratava, e o futuro arquiteto desconversou.


Quando aquele diabo louro, falso, teatral, araponga, marcou o gol e todo o Brasil se calou de tristeza e ódio, Emanuel correu até o fundo da casa, apanhou o balde, correu até a rua e despejou o composto sobre todos os desenhos para completo espanto e terror da pivetada. Xingou um pouco os que o reprimiram e foi para sua casa. De lá para cá, dizem que Emanuel começou a torcer contra o Brasil. E tem dado certo, apesar do fiasco de 1994 (Copa ganha com pênalti!) e de a torcida contra não ter sido tão boa em 1998, por isso o segundo lugar, torcer contra valeu muito em 2002. Dizem que este ano, já há uma bandeira da Croácia na sacada do prédio onde mora. Apesar da possibilidade de pagar uma multa, (pendurar coisas na sacada é multa grave nas regras do condomínio), Emanuel acredita que esta romaria valha a pena. (Para quem pensou que Romaria fosse fazer trocadilho com Romário, esqueça, Emanuel acha Romário muito chato e meio folgado. Emanuel gosta é de torcer, mesmo que seja contra! Esta é sua romaria, segundo sua agenda do ano passado, que também veio parar em minhas mãos.)

Gislene Bosnich

quinta-feira, outubro 26, 2006

Os escaninhos do capitalismo estão em El Método

El Método ganhou no Brasil uma tradução ridícula que assusta os cinéfilos, O que você faria? Mais parece título de programa global. Mas não se deixe enganar: é o velho e bom cinema espanhol se apresentado sempre de maneira fértil para mostrar a ainda bem mais velha nova cara do degenerado e alquebrado capitalismo, sempre em busca de renovação na capacidade de explorar e manipular. Uma inocente entrevista de emprego junta sete candidatos em um ambiente clean - bem aos moldes do estilo Bloomberg News - que devem passar por etapas de dinâmica de grupo. Até o abrigo anti-ataque nuclear está lá. No lugar da prostituta e do advogado, são os candidatos que devem dizer suas mirabolantes habilidades. Vá ver com amigos! e depois bater papo. Principalmente se os amigos já tiverem passado por situações cáusticas como pelas quais passam os esplêndidos atores. O ator de Tesis (Morte ao vivo no Brasil) também está lá. E sempre muito bom. Embora haja, como disse, grande atuação de todos.

domingo, outubro 15, 2006

Amantes constantes é aula de cinema

Amantes Constantes é inspirador, simbólico, didático, ótimo para quem já entendeu que a vida não é estável nem quando os amores parecem ser. Os estudantes de cinema deveriam ter o filme como um paradigma. Os que gostam de cinema devem tê-lo como uma expressão de que nada está perdido. Os que não gostam de cinema e vivem deste preconceito, continuarão encontrando um bom motivo para manter seus parâmetros. É leve, intenso e seus personagens mostram como entre tantos descaminhos as pessoas se encontram numa fagulha de tempo e o vivem da melhor maneira que podem. Um ano depois de estrear na França chegou ao Brasil. Palavra-de-ordem: Assistam!

domingo, outubro 08, 2006

Glasnot e Perestroika mostram sua face vinte anos depois

Capitalismo: suas "lições" de democracia


A notícia abaixo foi vinculada no site do Estadão e reflete bem o que o capitalismo chama de democracia. É óbvio que os ideólogos da classe dominante vão argumentar que se há um dedo de Putin no assassinato da jornalista que lhe fazia oposição direta - principalmente no que tange à seu trabalho como escritora - deve ser porque ainda há na Rússia um resquício de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Mas não se trata de resquício algum. Putin usa os artíficios da democracia burguesa à risca, tão à risca que em muito se assemelham ao que o stalinismo produziu destruindo a vida daqueles que queria construir um grande processo revolucionário para a derrubada do capital, como Lênin e Trotsky, e Rosa Luxemburg, e tantos outros que as burocracias exterminaram.
Aliás, nada incompatível com o que fazem seus comparsas-dirigentes de outras nações.


08 de outubro de 2006 - 04:09
Jornalista assassinada acreditava que seus livros eram sua garantia de vida
Ana Politkovskaya era a principal crítica da política do presidente Vladimir Putin

  • EFE


  • MOSCOU - A jornalista russa Ana Politkovskaya, assassinada no sábado em Moscou, considerava que seus livros, com duras críticas ao Kremlin e denúncias a situação na Chechênia eram "uma garantia" para sua vida.

    O corpo da jornalista foi encontrado com quatro marcas de tiros no elevador do edifício em que morava, no centro de Moscou, segundo informações de agências russas. "Ela foi morta na porta de sua casa", disse Dmitri Muratov, redator-chefe do "Novaya Gazeta", jornal para a qual a jornalista trabalhava.

    O promotor de Moscou, Yuri Siomin, anunciou a abertura de uma investigação por "assassinato premeditado" e acrescentou que "a versão que os órgãos de segurança estão considerando é a de que ela foi assassinada pelo cumprimento do seu dever".

    Politkovskaya nasceu em 1958 em Nova York e era considerada a jornalista mais crítica à política do presidente russo, especialmente nos assuntos relacionados à Chechênia e ao Cáucaso Norte.

    Consciente de que sua vida corria perigo, ela disse durante uma entrevista coletiva em Madri, no lançamento de seu livro "A Rússia de Putin", em fevereiro de 2005, que considerava que a publicação dessa obra no Ocidente não era "apenas mais uma etapa do meu trabalho, mas também uma garantia contra qualquer desgraça que possa me acontecer na Rússia".

    "Poderíamos dizer que é a minha proteção", disse Politkovskaya a um grupo de jornalistas espanhóis e russos. Especialista no conflito checheno, a jornalista ganhou notoriedade por ter trabalhado como mediadora no seqüestro ocorrido no teatro Dubrovka de Moscou, em outubro de 2002.

    Liberdade ameaçada
    Politkovskaya afirmou também, ocasião, que trabalhava em um jornal "de oposição ao presidente Putin, o único de oposição ao governo que continua vivo, mas que não sabemos por quanto tempo ainda ficará, porque a liberdade de expressão parece que vai acabar na Rússia".

    Em "A Rússia de Putin", Politkovskaya narra em sete capítulos o que ela chama de "neo-sovietização" da Rússia sob o governo de Putin após sua reeleição em 2003, com um progressivo controle dos serviços de segurança e um enfraquecimento dos procedimentos democráticos.
    Com um estilo ágil e contundente, a jornalista ilustra sua tese com uma série de histórias, muitas delas de jovens soldados que foram vítimas de abusos, má conduta e corrupção de seus comandantes superiores.

    Na entrevista coletiva, Ana Politkovskaya afirmou que tinha sido vítima de uma tentativa de envenenamento no avião no qual tentava chegar à escola de Beslan (setembro de 2004) e disse que a vida na Rússia, na atualidade, "dá poucos motivos para ser otimista".

    Para a jornalista, "enquanto Putin continuar aplicando sua política não há alternativa" para a Chechênia, cuja solução deveria ser, na sua opinião, pela da negociação política e não por via militar.

    Politkovskaya citou três figuras do cenário político russo que considerava importantes para ajudar a oposição a Putin a ressurgir, depois da derrota nas eleições de 2003: Vladimir Rishkov, um jovem que "veio de províncias, da Sibéria, o que é muito importante na Rússia"; o tricampeão mundial de xadrez Gary Kasparov, "uma pessoa que não tem medo de nada", e o ex-primeiro-ministro russo Mikhail Kasianov.

    sábado, setembro 09, 2006

    Obrigado por fumar revela moral insana da relativização estadunidense

    Filme reacionário e platéia burra.


    HSBC Belas Artes, sábado, 19h30min, dia 9 de setembro. Feriado prolongado cultural. Crítico cultural. Calma lá que nada é assim tão perfeito. Vivemos e somos seres sociais, e é difícil aceitá-los por vezes... por vezes como esta noite.
    O filme Obrigada por fumar é a projeção da imbecilidade humana ou pelo menos estadunidense. Mas o pior é ver a platéia confusa dizendo que o filme embola o meio de campo; coisa assim meus ouvidos puderam captar. Sem considerar a misogenia latente dos machos de plantão quando o ator que vive o canalha-mor se vê obrigado a dar o troco numa jornalista tão canalha quanto o seu fonte-amante casual.
    Obrigada por fumar não é polêmico. É falsamente polêmico, pois, relativiza toda a canalhice. Ao final, o pseudo vilão diz que seu talento é ludibriar assim como outros têm talento para jogar basquete e outros para matar. Émile Durkheim, quem diria, está muito atual.Obrigada por fumar é o idílio do estúpidos que estão na dita parcela pensante da sociedade.

    O político denuncista é apenas mais um tipo conhecido do brasileiro. Pura farsa da commedia dell´arte.

    O que mais impressiona é: por que cargas d´água o público se deixa induzir por um filme que na maior parte do tempo relativiza o caráter do ser humano e transforma até mesmo as crianças em estereótipos de canalhas adultos ? As pessoas sorriem porque foram hipnotizadas por este cinema com pecha de alternativo, cult movie. Imagine você... isto é digno de ganhar prêmio de O poderoso alienador. Uma dose e desqualifica o ser humano. Estamos anestesiados. E esta nossa classe média; só serve mesmo para aparar as fezes que vêm de cima. O tiro que mata tem dor distinta a depender da direção da bala.

    Espelho mágico

  • Espelho mágico


  • Manoel Oliveira esbarra de novo num Portugal extremamente religioso, que não penetra na alma do brasileiro hipócrita cristão.
    Vai ter curta duração, mas certamente vale a pena conferir sua crítica à alma dos ricos e suas preocupações, que cá destes lados nada têm de divino e muito providencialmente encontra-se em qualquer loja de shopping. Nossa burguesia, convenhamos, é particular em tudo.

    Timão de Atenas


    É verdade - com já diziam os que sabem do ato de atuar - um ótimo ator segura um texto ruim e o faz crescer, mas um ator mediano desaba um texto ótimo. Que dizer então de um ator menor que mediano. É capaz de um grande aniquilamento. Assim é a impressão que se tem quando se acaba de assistir Timão de Atenas. Na noite da sexta-feira dia 8 de setembro tive a oportunidade conferir Renato Borghi vivendo Timão, um mecenas, um homem generoso que se vê diante da rua da amargura exatamente por ter distribuído toda sua fortuna. Há momentos majestosos perdidos entre lapsos de marcação de falas e de tempo. Tudo num aparente improviso. Sei que os atores passaram pela Oficina Oswald de Andrade durante o final do ano passado até a estréia há alguma semanas. Mas está mal esta montagem. Uma pena, porque o texto, que vale a pena mesmo (eu não o conhecia) traz elementos muito atuais.
    Timão de Atenas é uma tentativa do resgate da inocência, que talvez ainda nem tenha podido existir, e uma crítica, às vezes sutil, às vezes rasgada, ao famigerado Governo dos Traidores Lulaceanos.

    terça-feira, agosto 22, 2006

    As paixões de uma mulher








    Café da manhã em Plutão

    Neil Jordan assume ares de Almodóvar

    Quem ainda não teve oportunidade deve assistir ao filme Café da manhã em Plutão, uma imperdível película que trata de forma totalmente diferenciada uma história que Almodóvar poderia ter contato. Em meados da década de 40, na Irlanda, uma jovem vai trabalhar na casa de um senhor, de um padre. É seduzida e engravida. O bebê, um rapaz, é deixado na porta da casa do padre, que o recolhe e o doa a uma família. A partir daí a trama começa a ganhar corpo e é entremeada pela luta do IRA. Vinte anos já se passaram. O filme começa num tom aparentemente leve, e vai ficando denso, até que em determinados momentos adquire o status de thriller político sem descuidar de seu lado Almodóvar.
    Vale a pena. Até agora um dos melhores do ano.