Santiago é um daqueles filmes maravilhosos que você quer levar para casa para guardar cada frase. Cada reflexão de um ser humano que, parece, se empenhou em refletir sobre a vida que ele nunca teve...que nunca poderia ter. Não é utópico. É propriamente idílico.
A erudição passa por locais tão intrigantes... Um mordomo que toca piano e escreve 30 mil páginas sobre as mais diveras nobrezas que já habitaram a face da terra em todos os tempos e que, além disso tudo, é poliglota. Este senhor, à época com mais de 70 anos, divide conosco seus sonhos, seus contos, suas fadas... (materializadas em rainhas, condessas. Personagens reais envoltos em defesa lírica). E, como adverte o próprio diretor, tem suprimido seus demônios, por conta e obra do não-amadurecimento do mesmo diretor.
É verdade...é necessário reconhecer. Há mais burgueses talentosos depois de Cazuza... e talvez João Moreira Salles seja um deles. Não livra a cara da classe à qual pertence, mas pelo menos livra a cara da arte. Às vezes dilacerada pela Globo Filmes.
O documentário é como um texto em que se escreve, e sofre interrupção. Retorna-se menos ingênuo e mais áspero na crítica. Mas um texto não acusa envelhecimento, não acusa processo. Ninguém sabe se foi feito de uma tacada, escrito quase como catarse. O cinema, sim. É dilacerante.